Resumo

A cartografia é uma ferramenta essencial para a compreensão das especificidades de cada território. No âmbito da saúde, permite identificar fatores que influenciam o processo saúde-doença, dentre os quais se destacam os aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais. Contribui, ainda, para uma percepção ampliada do conceito de território, especialmente considerando a dinamicidade do espaço. Particularmente para a Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade, abrem-se diversas possibilidades de atuação, por meio da constituição de vínculos com a comunidade adscrita e com as equipes de Saúde da Família. O presente trabalho visa apresentar a experiência de cartografia em saúde realizada pelos residentes que atuam na USF Nova Conquista Integrada, localizada no bairro Alto do Mateus, João Pessoa/PB. Por meio da cartografia foi possível conhecer a área de inserção da Residência, a rede sócio-cultural e geopolítica do bairro, o modo de vida das pessoas que ali residem e os determinantes do processo saúde-doença neste espaço. Permitiu, ainda, resgatar a história da comunidade, construir vínculos com esta e com as equipes de saúde, reconhecer e aproximar a Residência do seu cenário de prática, identificar possíveis articulações entre os diversos equipamentos sociais existentes e destes com os serviços de saúde do bairro, e delinear as possibilidades de atuação do profissional-residente. O trabalho mostrou inicialmente, de forma bastante evidente, o tamanho da riqueza do bairro, uma comunidade da periferia da cidade e dita de características “pobres”. Além da articulação que fizemos com pessoas e instituições locais, conseguimos que as famílias se enxergassem na história do próprio lugar onde vivem. A partir do contato com o território, percebemos o quão politizadas são as pessoas daquele bairro e que isso pode ser bem “explorado” para potenciais ações em saúde, cidadania, educação e cultura. Além dos serviços de saúde, a comunidade possui 25 equipamentos sociais, compreendendo escolas, creches, ONG’s, praças, Centros de Juventude e de Assistência Social, núcleos de terapias alternativas e locais de lazer. Alguns destes possuem uma articulação com os serviços de saúde ainda incipiente, mas com potencialidade bastante evidente. Diante do exposto, percebemos que a cartografia perpassou o simples conhecimento do território, já que permitiu a construção de vínculos com a comunidade e equipe de saúde, e uma inserção mais efetiva da Residência.