Resumo

O objetivo deste estudo, que consistiu em uma revisão sistemática de literatura, foi identificar as especificidades dos contextos familiares em situação de pobreza com vistas à análise do cuidado em saúde. Nas fontes pesquisadas constatou-se que nesta camada da população as famílias possuem características próprias, muitas vezes desconhecidas pelos profissionais da saúde. A primeira delas é a forma como se estruturam estas famílias, que diferem do modelo nuclear presente no imaginário social. O grupo familiar não parece ser vinculado por laços de sangue, mas por laços de confiança estabelecidos. Outras situações comuns são a "circulação de crianças" (crianças que passam parte da infância morando com cuidadores que não os pais) e a família ampliada, considerada uma estratégia adaptativa em situação de pobreza. Percebe-se que, inclusive para profissionais de saúde, estas características são desconhecidas e as famílias pobres ainda são consideradas patológicas e incapazes de atender às necessidades dos filhos. Pode-se observar também que diversas situações de risco estão presentes na vida das crianças e famílias de todas as classes sociais, porém as populações mais vulneráveis são aquelas que vivem em situação de pobreza, devido à multiplicidade de adversidades a que estão expostas. É neste contexto que encontra-se na literatura o conceito de resiliência. Os fatores de proteção favorecem a resiliência e parecem reduzir os impactos do risco. A literatura registra também o conceito de resiliência familiar, que se assemelha ao da resiliência individual, porém o foco está na habilidade da família como um todo de superar as adversidades. De um modo geral, os dados obtidos enfatizam a importância do conhecimento da diversidade cultural existente entre os grupos sociais que co-existem em nosso país, para a realização de um trabalho efetivo com a população mais pobre. Esse conhecimento é fundamental para os profissionais de saúde, que frequentemente não têm estes aspectos considerados em sua formação, e que atuam diretamente junto às famílias carentes . Mostra-se importante, também, um trabalho voltado para o fortalecimento dos fatores de proteção nas famílias e um maior envolvimento dos trabalhadores da saúde com a formulação das políticas públicas. Além disso, é fundamental um maior investimento em políticas públicas para reduzir o quadro de adversidades presente na vida de grande parcela da população no país.