Resumo

Esta investigação aborda a micropolítica do trabalho e as relações interprofissionais de um CAPS enfocando ambivalências e contradições emergentes nos microprocessos cotidianos que apresentam possibilidades de potência e/ou limitações na configuração do trabalho em saúde mental. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de abordagem hermenêutica crítica visando compreender os diversos sentidos emergentes nas narrativas e práticas vigentes entre os trabalhadores. Foram realizados 3 grupos focais, 10 entrevistas em profundidade e observação ao longo de 2 meses. Diversas tensões nas relações interprofissionais entre médicos e demais profissionais foram observadas. Os médicos justificaram seu distanciamento da equipe pela sobrecarga de atendimentos; as cobranças e a falta de apoio percebida. Contudo, tal distanciamento também expressa estratégias de preservação da autonomia médica ante o processo de construção da autonomia da equipe. As ausências dos médicos nas reuniões de equipe e as dificuldades em estabelecer maior colaboração interprofissional de certo modo referendam esta perspectiva. Contudo, há ambivalências e contradições no restante da equipe. Se por um lado a ausência dos médicos nas reuniões é criticada, por outro, a presença destes expressa um maior poder simbólico e o exercício de certa violência simbólica com a anuência dos demais profissionais. As relações de poder que perpassam as relações interprofissionais engendram ambivalências e contradições que intensificam o distanciamento dos médicos e geram sofrimento na equipe. Entre alguns dos aspectos involucrados na constituição de uma maior colaboração interprofissional merece destaque a necessidade de intensificar as dimensões afetivas no trabalho.