Resumo

A dívida histórica do Estado brasileiro na construção de políticas públicas pautadas pelas necessidades e direitos da população e a inconclusão da Reforma Sanitária Brasileira (RSB) apontam para a necessidade de retomarmos a discussão da saúde como agenda intersetorial, que inclui o direito à vida, à saúde, à terra e à produção. Neste contexto, tornam-se relevantes a necessidade de estruturar uma política abrangente de saúde das populações do campo e da floresta, bem como a de re-significar o olhar e as ações dos trabalhadores de saúde para a realidade sócio-histórica da população do campo. Estas questões se colocam como centrais na construção do TERRA-SUS: Trabalho, Educação e Reforma Agrária no Sistema Único de Saúde. Trata-se de um curso introdutório com trabalhadores da estratégia de saúde da família que atuam em áreas de assentamento – um dos eixos de fortalecimento da Política de Educação Permanente no Estado de Pernambuco. O TERRA-SUS surgiu do diálogo propositivo entre o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Secretaria Estadual de Saúde, na diante do entendimento de que a educação pode apontar caminhos para os profissionais reconhecerem a diversidade de cada comunidade/família que acompanham, potencializando o ser histórico, a identidade camponesa destes territórios e a re-orientação das práticas de saúde e do cuidado com a população. O TERRA-SUS tem como princípios filosóficos e didáticos elementos das pedagogias histórico-críticas, da pedagogia do oprimido e da pedagogia da alternância, que caracterizam processos de formação no campo sob a perspectiva da liberdade e da reinvenção das relações entre homens, trabalho e sociedade. Considerando que esta experiência está em curso, podemos mencionar que seus resultados são processuais e que as perspectivas ideológicas que a norteiam oportunizaram o encontro entre gestão, trabalhadores, instituições formadoras e movimento social. Tais articulações tem possibilitado reflexões sobre a necessidade de retomarmos a categoria do princípio do direito à saúde como questão central para a retomada da RSB. Sugere-se que os processos de formação dos trabalhadores de saúde possam se inserir numa perspectiva histórica, crítica e hermenêutica, como propõem estas pedagogias e que estes encontros possibilitem uma leitura crítica da Reforma Sanitária e da Reforma Agrária em nosso país.