9º Congresso Nacional da Rede Unida 2010
Resumo:1017-2



1017-2O USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO CONTEXTO DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA (MST) NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Autores:Letícia Mendes Ricardo (ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca) ; Eduardo Navarro Stotz (ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca)

Resumo

INTRODUÇÃO: O presente resumo refere-se aos resultados parciais do trabalho de mestrado em curso na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca / Fiocruz. O uso de plantas medicinais é recorrente na medicina popular brasileira, especialmente junto à população rural, e particulariza-se no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o qual agrega trabalhadores rurais com diferentes origens e histórias de vida. Esta pesquisa permite estudar concepções e experiências envolvendo saúde e plantas medicinais no meio rural e possibilita compreender a utilização do SUS e de sistemas de cura concorrentes pelos assentados. OBJETIVO GERAL: Estudar a concepção do processo saúde-doença e o uso de plantas medicinais pelos Agentes de Cura do MST / RJ. MÉTODO: Foi utilizada abordagem etnográfica da realidade, particularmente em relação aos saberes e práticas em saúde. Entrevistou-se os Agentes de Cura de três pré-assentamentos do MST no Rio de Janeiro e foi realizada observação participante nos mesmos a fim de aprofundar o conhecimento sobre as práticas cotidianas. RESULTADOS: na pesquisa de campo constatou-se que: a) organização do setor de saúde do MST nas áreas introduz formalmente racionalidades médicas (alopatia e medicina chinesa) e não médicas (uso popular de plantas medicinais); b) há uso recorrente de ervas medicinais nas áreas estudadas e a existência de sujeitos de referência para o cuidado popular em saúde – Agentes de Cura; c) a utilização de ervas, representando a convergência de elementos culturais de origens diversas, abrange diferentes concepções sobre o processo saúde-doença; d) há relatos sobre a pouca integração entre a medicina alopática e as práticas de cura utilizadas pelos assentados, gerando situações de impasse e descrença em relação à medicina popular; e) que existe também associação entre saúde e práticas agroecológicas, troca de conhecimentos e resistência ao uso intenso de medicamentos sintéticos. CONCLUSÕES: se não há incompatibilidade entre o uso de ervas e a utilização da biomedicina prevalente no SUS, há situações de conflito a exigir mediações; constata-se a importância da institucionalização da política de saúde voltada para a população do campo e a necessidade de a mesma estar articulada com os saberes populares em saúde. Verifica-se também como a luta dos assentados pela saúde está imersa na luta por melhores condições de vida e reforma agrária, correspondendo à uma consciência sanitária e cidadã.


Palavras-chave:  Concepção do processo saúde-doença, Movimento Sem Terra, Uso de plantas medicinais