9º Congresso Nacional da Rede Unida 2010
Resumo:965-1



965-1Concepções de sedentarismo entre usuários do Programa Lazer e Saúde no Parque Humaitá em Porto Alegre
Autores:Alex Branco Fraga (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) ; Felipe Wachs (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) ; Rute Viégas Nunes (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) ; Ivana dos Santos Teixeira (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) ; Igor Ghelman Sordi Zibenberg (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

Resumo

Em 1995, um conjunto de recomendações sistematizadas sobre a prática de atividade física como fator de prevenção à saúde é publicado no Journal of the American Medical Association, assinadas pelos CDC e pelo American College of Sports Medicine (ACSM). De forma sucinta, recomendava-se acumular 30 minutos de atividade física de intensidade moderada ao longo do dia para que se possa adquirir proteção adicional à saúde (PATE et al, 1995). As recomendações de 1995 são atualizadas em 2007. A atualização é assinada pelo ACSM e pela American Heart Association (HASKELL et al, 2007). Apesar das inúmeras divergências nas ciências do movimento humano, tais recomendações são, frequentemente, difundidas através de programas de promoção da saúde e da mídia. O objetivo da pesquisa foi investigar o processo de significação das práticas físicas em uma população de caminhantes frente à disseminação de informações sobre as relações entre saúde e estilos de vida ativo e sedentário. Buscamos um grupo de pessoas potencialmente mais exposto a tais informações. Investigamos entre 2005 e 2008, através de questionários e entrevistas, caminhantes do Parque Humaitá. Esse parque foi escolhido por estar na região de pior Índice de Vulnerabilidade Social em que a prefeitura oferece o Programa Lazer e Saúde. Os achados iniciais, principalmente a verificação de sentidos atribuídos à caminhada a partir da figura médica, conduziram-nos a um redirecionamento da investigação. Resolvemos, então, abordar o discurso não mais a partir da atividade física, mas das significações acerca do comportamento combatido por ele: o sedentarismo. Expressões, como diabetes, colesterol, pressão, circulação, dores nas costas, disposição para o trabalho, faz bem para cabeça, felicidade, bem-estar, qualidade de vida, agilidade intelectual etc., encontradas de forma recorrente no conjunto das respostas, demonstram, em uma análise mais genérica, a idéia de que atividade física funciona como uma espécie de “panacéia”, um remédio para todos os males. Já o sedentarismo ganha contornos pejorativos, é um mal que nos espreita, um estilo de vida “daninho” que pode ser evitado ou alterado com boa vontade. Tal simplificação é uma das tantas formas de mostrar que o sedentário não é entendido apenas como aquele sujeito fisicamente descuidado, é também um sujeito moralmente decadente, um errante que dá sentido positivo aos preceitos da vida ativa, um elemento central no processo de medicalização das práticas corporais.


Palavras-chave:  Sedentarismo, Vida Ativa, Medicalização