Resumo

O Murialdo, além de suas atividades assistenciais em saúde, tornou-se referência em formação de ensino em serviço, especialmente através da residência médica e multiprofissional. Em 1996, quando ocorreu a municipalização dos serviços de saúde de Porto Alegre, as unidades integrantes do Murialdo permaneceram vinculadas ao governo estadual em virtude do ensino. Com o tempo, o estado investiu precariamente no serviço, utilizando a justificativa da atenção básica em saúde ser de responsabilidade do município. O sucateamento levou os profissionais a tal estado que a única saída que viram foi organizar um movimento que ocorreu no ano de 2008 e consistiu-se em duas greves, em julho e em outubro, além de diversas outras articulações.. Este trabalho tem como objetivo registrar e analisar esse movimento pela ótica dos funcionários e residentes atuantes no período de mobilização, através de um estudo qualitativo. Constituíram o corpus de análise entrevistas semi-estruturadas realizadas com oito sujeitos. Os dados foram analisados com base na técnica desenvolvida por Bardin e o projeto foi aprovado pelo comitê de ética da ESP/RS. A partir das falas, percebemos que a mobilização dos trabalhadores, dentre eles funcionários e residentes, convergia ao menos em um aspecto: a necessidade de melhores condições de trabalho e, conseqüentemente, ensino. No entanto, o grupo mobilizado divergia na forma de encaminhar a situação. Enquanto parte dos funcionários de nível superior, afetos ao trabalho voltado para o ensino, propunham uma gestão compartilhada tendo como solicitação a responsabilização do município apenas pelo excedente populacional, o nível técnico pedia a municipalização, tendo em vista, plano de carreira e uma melhor remuneração. A inserção ativa dos residentes à greve dos trabalhadores, fortaleceu a mobilização, em especial no trabalho voltado ao controle social. Com isso a vivência desse movimento foi identificada de duas formas distintas pelos residentes, de um lado avaliou-se como significativa a experiência de luta pela consolidação do SUS, por outro identificou-se o período de paralisação como algo negativo no processo de formação, sendo considerado um tempo de “não-execução” do programa no primeiro ano de Residência. Em janeiro de 2009 foi assinado o termo de municipalização das UBS do Murialdo. Para os entrevistados, a conquista da municipalização se deu pela soma de dois movimentos importantes: a mobilização dos trabalhadores em ano eleição municipal.