Resumo

O que faz de um terreno educativo fértil ou infértil para fomentar a educação de profissionais de saúde e superar os desafios para a reconstrução do campo de cuidado antimanicomial em saúde mental? Para tal finalidade são as residências multiprofissionais em saúde mental terrenos férteis? Sob quais circunstâncias e princípios ordenadores? Têm as residências multiprofissionais capacidade de produzir operadores transdisciplinares da ciência? A residência multiprofissional pesquisada, foi implantada em 2008, com 15 residentes (três enfermeiros, três terapeutas ocupacionais, três psicólogos, dois assistentes sociais, dois educadores físicos e dois cientistas sociais. Inicialmente, aplicamos um questionário profissiográfico, realizamos entrevistas individuais com os 15 residentes. Acompanhamos uma das equipes de residentes em um dos quatro cenários de prática-aprendizagem, através da observação participante e elaboração de diários de campo. Realizamos um grupo focal com os preceptores e uma entrevista individual com a coordenação da residência. A presença de uma residência multiprofissional nos serviços substitutivos de saúde mental se revelou como componente fundamental à potencialização destes dispositivos. Esta residência produziu nos sujeitos em formação um tensionamento das fronteiras dos núcleos profissionais, inquietações sobre qual o papel específico de uma categoria, em que diferem as atuações, até onde uma determinada formação profissional permite agir, a quem compete tal função. Levou a perceber o quanto há de fluido e de permeável quando profissionais de diferentes categorias atuam em parceria em determinado espaço, tentando dar conta da complexidade de um campo. O rodízio entre vários cenários de prática-aprendizagem com sujeitos diferentes, os quatro momentos de preceptoria - proporcionando ora discussão de núcleo profissional ora de campo, ora convidando para inclusão da noção de “perfil”, a diversidade de estratégias utilizadas dentro e fora dos cenários para o cuidado integral ao usuário, e particularmente, a organização do trabalho no território, nos parecem os principais terrenos educativos que podem favorecer a capacitação de tais residentes em saúde mental. Descrevê-los nesse processo educativo demonstrou o quão rico e desafiador pode ser a formação em serviço, a partir da organização do trabalho em equipes multiprofissionais para o cuidado em saúde mental. Financiamento: FAPESB