Resumo

Introdução: Os materiais bibliográficos elaborados e publicados pelo Ministério da Saúde (MS) fazem parte de uma política mais global de circulação de discursos que objetivam contribuir para o desenvolvimento das práticas de saúde em variados contextos. Para realização deste estudo partimos do pressuposto que esses materiais são artefatos culturais que circulam sentidos e significados a serem apropriados ou ressignificados pelos múltiplos sujeitos em diversas situações. Considerando portanto que esses materiais são utilizados como referências por profissionais da saúde, a análise dos mesmos e dos discursos deles apreendidos é um passo importante no processo de constituição e consolidação do SUS. Objetivos: Identificar quais concepções de saúde estão presentes nos materiais bibliográficos do MS na percepção de profissionais que fazem uso destes artefatos culturais. Método: Foram entrevistados, nos anos de 2007 a 2008, docentes-enfermeiros dos cursos de Enfermagem de duas instituições públicas de ensino sendo 4 professores da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e 6 da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), unidade de Dourados. Entrevistou-se também 14 enfermeiros que atuam em Unidades Básicas de Saúde desses municípios sendo 6 de Campinas e 8 de Dourados. O recorte por estes sujeitos se deu por entendermos que os mesmos se constituem em sujeitos-chave para a efetivação de um projeto coletivo de saúde democrático e comprometido com as necessidades e demandas sociais. Resultados e Conclusão: Na percepção dos docentes, a saúde é abordada nos materiais do MS com os seguintes aspectos: ênfase na doença, descontextualização da realidade, conceito ampliado de saúde conforme estabelecido na Constituição de 1988, dualidade de sentido no uso do termo: em parte ainda centrado na doença mas também incorpora o conceito ampliado de saúde. Para os enfermeiros entrevistados o discurso da saúde aparece nesses materiais com ênfase na doença; descontextualização da realidade; privilégio da prevenção; falta do acolhimento e humanização na abordagem do atendimento; e predomínio da racionalidade técnica. Nota-se que o conceito de saúde mais presente nos materiais na percepção dos entrevistados é a saúde como ausência de doença sendo esta norteadora das ações em saúde e não sua concepção mais abrangente e ampliada adotada na Constituição Federal resultante da reivindicação do movimento pela Reforma Sanitária Brasileira.