Resumo

Este trabalho é um relato de experiência etnográfica no campo do ensino de graduação em saúde que ocorreu durante um projeto de ensino-pesquisa intitulado Etnometodologias em Saúde Coletiva: abordagens e aproximações para a formação integral dos profissionais em saúde, no Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Pampa. Acadêmicos do curso de enfermagem realizaram saídas de campo ao “Lixão Municipal de Uruguaiana”, cidade localizada na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, com o objetivo de aproximarem-se de cenários caracterizados pela diversidade sócio-sanitária de uma população vulnerável, catadores de materiais recicláveis, e, com isso, desenvolver um olhar crítico-reflexivo na formação em saúde a partir de uma perspectiva etnográfica que abarcasse novas experiências em ensino, considerando a diversidade cultural e os desafios que a formação em saúde exige em nossa contemporaneidade. Durante as atividades observaram-se as vivências, as histórias de vida e o processo de trabalho como estratégia de compreender as representações socioculturais acerca do tema saúde-doença na concepção desses trabalhadores. Visualizou-se que a concepção de saúde dos trabalhadores é diferente do conceito ampliado de saúde preconizado pela organização mundial da saúde, para eles saúde é “ter forças para trabalhar”. Em suas falas foram unânimes em referenciar que a condição ambiental não interfere sobre sua saúde. As reflexões suscitadas pelo campo de pesquisa e ensino neste cenário, fez com que esses acadêmicos compreendessem a necessidade de ver o sujeito de forma integral, direcionando sua atenção não apenas para o processo saúde/doença mas, também, contemplando um olhar para a subjetividade, as concepções de mundo e ao contexto em que aqueles trabalhadores estão inseridos. Compreende-se que a interdisciplinariedade na graduação, entrelaçada ao ensino pesquisa e extensão somam-se como dispositivo para uma formação acadêmica e profissional integral, humanizada e qualificada, contribuindo para a construção de competências e habilidades que considerem o ser humano holístico e com isso, fomente uma assistência adequada a cada realidade social. Segundo as acadêmicas: “Essas vivências foram fundamentais para nossa formação, pois nos oportunizou conhecer um universo cultural até então desconhecido. Como futuras enfermeiras compreendemos a necessidade de implementar o cuidado considerando a visão de mundo e concepções trazidas por cada sujeito.”