Resumo

Esse trabalho nasce de um convite do Departamento Regional de Saúde de Marilia ao nosso grupo de pesquisa da UNESP/Assis, para construir diretrizes regionais para a saúde mental.Decidimos realizar oficinas de planejamento participativo com gestores e trabalhadores com a finalidade de construir coletivamente tais diretrizes, e ao mesmo tempo produzir conhecimento em saúde mental capaz de modificar o processo de trabalho das equipes envolvidas. Tal parceria possibilitou construir um trabalho que visa diminuir a distância entre a universidade e às instituições e práticas de saúde como campo de investigação no processo de produção de conhecimento.Utilizamos a intercessão-pesquisa, desenvolvida por Costa-Rosa, que tem como diretriz a fundamentação no processo dialético prática-teoria-prática e a facilitação da construção coletiva do conhecimento, associando o conhecimento da realidade com sistematização das experiências concretizando o “aprender com a prática”, sendo esta sua meta e material para reflexão do intercessor-pesquisador. A meta, objetivo ou direção não é dado a priori, conhecer e fazer, pesquisar e intervir são inseparáveis,portanto a meta é construida no percurso da pesquisa. O caminho metodológico é a compreensão de que objeto, sujeito e conhecimento coemergem como efeitos do processo de pesquisar, não se pode orientar a pesquisa pelo que se supõe saber previamente a respeito da realidade. Trata-se de investigar um processo de produção de conhecimento, portanto não há coleta de dados, mas a produção dos dados da pesquisa, que já se encontram em potência, e que a intercessão-pesquisa faz emergir. A necessidade de um dispositivo intercessor como meio de produção de conhecimento parte do referido “paradoxo dos dois saberes”, que se desdobra também na organização da universidade. Como instituição social de produção, ela se organiza a partir de duas linhas de produção: os técnicos para a ação e os cientistas pesquisadores para a produção do saber, a ser traduzido nas técnicas para suprimento dos trabalhadores da saúde, não sendo capaz de romper com os enquadramentos institucionais que a viabilizam enquanto instrumento formal de reprodução social do sistema do capital. A intercessão-pesquisa, à medida que relaciona o fazer com uma reflexão teórica e integra a dimensão imediata com a estratégica, possibilita a produção de conhecimento que engendra novas práticas que promovem uma transformação emancipadora do trabalho.