Resumo

A análise de discurso, como metodologia utilizada na área da saúde, pode ser uma estratégia tanto no campo da pesquisa em saúde quanto no fazer cotidiano dos profissionais, já que permite compreender, e não apenas refletir, o gesto de interpretação do sujeito e expor seus efeitos de sentido. Na realidade do SUS, especificamente, na Saúde da Família, com a proposta de mudança no modelo assistencial, torna-se interessante compreender os discursos vigentes que cercam os sujeitos e as realidades de atenção à saúde. Como reorientar um modelo de atenção senão compreendendo os modos como o discurso hegemônico na saúde funciona e produz sentidos entre profissionais e usuários do SUS para que outro dizer seja possível? Este trabalho se constitui em um estudo de caso que tem como objetivo identificar o discurso referente à educação no ambiente de trabalho, expresso por membros de uma equipe multiprofissional da Saúde da Família no município do Rio Grande/RS. A coleta de dados ocorreu com a utilização de entrevistas não-estruturadas. O corpus do trabalho foi analisado conforme as etapas da análise de discurso, utilizando-se a paráfrase e a polissemia como dispositivos analíticos. Identificou-se no discurso dos sujeitos o predomínio de uma concepção de educação tradicional sendo que os profissionais referiram-se a mesma como um ato pontual, exterior e de cunho individual. Observou-se a presença ainda incipiente de um discurso que entende a educação como construída pelos sujeitos e no cotidiano do trabalho em saúde. A análise de discurso permitiu a identificação dos discursos presentes nesta equipe de Saúde da Família e possibilitou a compreensão destes dizeres numa estrutura maior de sentidos, instituídos pela educação em geral, e utilizados na formação de profissionais da saúde. Significa desenvolver habilidades que historicamente estiveram separadas, costurar os panos tecidos em separado, unir saberes de uma mesma profissão e entremeá-los com os de outras, para que se possa construir novas relações de trabalho e novas conformações organizacionais de atenção à saúde. A educação permanente em saúde, entendida nessa relação entre a formação individual, a postura profissional e o fazer coletivo durante o processo de trabalho, pode vir a contribuir para avanços no cotidiano de trabalho e com isso, melhorar a qualidade da atenção e, finalmente, possibilitar algumas mudanças no modelo assistencial.