Resumo

O presente estudo corresponde a um relato de experiência sobre a produção de um documentário nos moldes de Oficina Terapêutica, desenvolvido em 2009 com usuários do Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas do Hospital Nossa Senhora Conceição (CAPSad / HNSC). Esta proposta teve como objetivos possibilitar a expressão e criatividade dos participantes, bem como potencializar a autonomia e o pensamento crítico dos envolvidos. Também buscou ressignificar a cidade enquanto espaço de circulação social, sensibilizando e mobilizando a comunidade a respeito da Saúde Mental e da Dependência Química, tema escolhido pelos participantes da Oficina Criasonhos. Utilizar a produção de um documentário como proposta de ação de uma oficina terapêutica compreendeu uma possibilidade de reinventar o estar no mundo, e redefinir relações. Isto se dá, pois cada passo da proposta é fruto de uma construção coletiva, na qual foram considerados os desejos, pensamentos, histórias e possibilidades de cada participante, conferindo a essa produção significado de vida, inovação, potência e cidadania. Este processo teve como palco discussões sobre os mais variados temas: saúde, liberdade, vida, política, sociedade, entre outros. Assim, esta ferramenta permitiu integrar a participação, a criatividade, o planejamento, a reflexão, a educação em saúde, a experiência, o acesso à informação, a circulação social, a conscientização, a politização e o pertencimento ao grupo na construção de um fazer, adquirindo caráter tanto de produto como de processo. Produto, pois poderá ser utilizado como dispositivo de sensibilização, educação, e mobilização social. Processo, pois conferiu a cada participante a potência da criação, da expressão e da autonomia, à medida que permitiu o envolvimento dos participantes no percurso da produção, o que possibilitou ao sujeito imprimir sua identidade no roteiro e na trama do documentário. Além disso, um documentário sobre Saúde Mental e Dependência Química pode ser uma maneira de trabalhar com a população, dentro e fora dos CAPS, desencadeando reflexões sobre saúde e consumo de drogas lícitas e ilícitas na comunidade, propondo um novo modo de agir, tratar e compreender a dependência química, buscando assim, apontar as alternativas de tratamento em serviço público comunitário, levando em consideração os princípios do Sistema Único de Saúde e a Política Nacional de Saúde Mental do Brasil.