9º Congresso Nacional da Rede Unida 2010
Resumo:628-1



628-1REDUÇÃO DE DANOS: CAMPO DE POSSIBILIDADES PARA PRÁTICAS NÃO PROIBICIONISTAS EM SAÚDE
Autores:Flávia Costa da Silva (UFSM - Universidade Federal de Santa Maria)

Resumo

Com a epidemia de Aids chega ao Brasil às práticas em Redução de Danos (RD). Como forma de prevenção ao HIV/Aids, consistem na entrega do kit redução de danos a pessoas que fazem uso de drogas injetáveis, com o objetivo de evitar o compartilhamento de agulhas e seringas durante o ritual de uso. Em 2002 a Secretaria de Município da Saúde de Santa Maria implantou um Programa de Redução de Danos (PRD). Para a realização do trabalho no PRD, são necessários deslocamentos e atuação de profissionais em bairros populares, onde redes de narcotráfico e criminalidade convivem com redes policiais, domésticas, escolares. Lugares em que o narcotráfico e a criminalidade se incorporam às dinâmicas da vida, tramando as paisagens do autorizado e do clandestino. Para cumprir o objetivo concreto de trocar seringas sujas por limpas e potencializar algum cuidado em saúde, são necessárias muitas outras trocas.O objetivo desse trabalho é analisar algumas práticas em RD do Programa de Redução de Danos da SMS de Santa Maria/RS e dar visibilidade para tecnologias utilizadas pelos agentes redutores de danos no cuidado em saúde junto a pessoas que usam drogas. Para tanto utilizou-se três vídeos, produzidos pelos agentes redutores de danos, sobre o trabalho de campo realizado no PRD em questão. Os redutores de danos estabelecem uma prática permeada pelo encontro e pela capacidade de acolher o acontecimento de cada situação em campo. Não decepcionam-se quando suas sugestões não são aceitas; buscam garantir a afirmação da vida das pessoas, mesmo em contextos de sofrimento. Ao conversar com as pessoas e fixar o olhar nos detalhes de cada produção de vida, as práticas em RD permitem perceber que talvez o maior problema na vida de pessoas pobres, que carregam o rótulo de bandido ou drogado, seja a desqualificação de seus talentos, o impedimento da atualização de suas potências de vida, a dificuldade em acessar bens culturais, enfim, um conjunto socioeconômico cultural bem mais amplo, que associado à ilegalidade de algumas drogas, produz atributos depreciativos na vida de algumas pessoas. O saber sobre o uso de drogas produzido pela experiência no PRD mobilizou questionamentos ao moralmente constituído, ao sistema jurídico e suas leis. Dessa forma, penso que as práticas aproximaram-se da noção de micropolítica apresentada por Ceccim e Merhy (2009)e produziram resistências ao poder-saber hegemônico no campo do cuidado de pessoas que usam drogas lícitas e ou ilícitas.


Palavras-chave:  Redução de Danos, Educação, Drogas