Resumo

A gestão dos serviços de saúde no Brasil ainda é um grande desafio enfrentado pelas secretarias municipais de saúde em decorrência do processo de municipalização do Sistema Único de Saúde. Este trabalho localiza-se no campo da gestão municipal de saúde e estudou a gestão focando o espaço da micropolítica, analisando as caixas de ferramentas em produção, entendendo movimentos tensos, paradoxais e conflituosos, em que estão presentes diferentes projetos e interesses, que se aliam e se contrapõem no processo. A produção da pesquisa foi orientada pelos referenciais teóricos da análise institucional e da esquizoanálise. Foram realizadas conversas no cotidiano, observação, entrevistas, narrativas escritas e análise documental como forma de obter e registrar as afetações vividas no processo. O foco foi dado em uma secretaria municipal, à produção e operação de um arranjo para a regulação da atenção à saúde que tinha como propósito, garantir à população o acesso aos serviços de saúde de forma equânime, oportuna e integral. Destaca-se neste arranjo a estruturação de uma equipe de assessoria técnica para atuação na atenção básica. As marcas que ficaram desta cartografia foram produção da gestão no entre, isto é pelo entre do gestor e do trabalhador de saúde, pelo entre do gestor e do clinico, pelo entre do gestor e do usuário. Enfim pelo entre dos diversos espaços da gestão, em movimento, criando novos rumos, produzindo linhas de fuga e rupturas. Movimentos intercessores, processos de subjetivação na medida em que há intervenção na ação, sobre a ação e atravessamentos de um domínio sobre outro. Aparece então a caixa de ferramentas vibrátil. Uma mistura de conceitos ferramenta, advindos de diversos lugares, de diversas histórias produzidas na construção do SUS local. Produção de caixa de ferramentas em movimento e para dar movimento. É necessário subverter a ordem formal de que a equipe do nível central é quem determina as regras e o nível local às executa. Mas, sim criar novos fluxos efetivados por redes de conversação, de informação onde outros possam nomear, dizer o que faz, para que e como faz. É a caixa de ferramentas que monta, desmonta , quebra, destrói e constrói suas próprias ferramentas, produzindo-as em espaço de intercessão. Esta é a idéia da gestão peripatética. Desta forma é imprescindível a singularização dos processos e para isso a importância de arranjos que possibilitem encontros intercessores na produção da gestão.