Resumo

O processo de mudança na formação dos profissionais de saúde mental através da adoção de práticas interdisciplinares apresenta-se concomitantemente com as transformações ocorridas no campo assistencial. Assiste-se a passagem da adoção das práticas centradas no aparato hospitalar para os serviços territoriais como, por exemplo, os Centros de Atenção Psicossocial. O objetivo deste estudo consiste em refletir sobre a modalidade de residência multiprofissional em saúde mental como uma possibilidade de provocar mudanças qualitativas na assistência em saúde mental, atendendo a uma das diretrizes da atual política pública nacional de saúde mental, que é a de interferir nos processos de formação, na perspectiva de qualificar a rede de atenção, bem como elaborar novos conceitos e práticas para o campo da saúde mental. Através de uma cartografia do cotidiano de uma instituição psiquiátrica que busca formar profissionais para atuarem em consonância com as novas proposições do campo da saúde mental foi possível observar que existe um empenho em promover mudanças na formação desses novos profissionais, norteadas pela ruptura com os paradigmas tradicionais da lógica do isolamento e da redução do sujeito à doença mental, para a construção de um olhar que contemple o sujeito na complexidade de sua existência-sofrimento (Rotelli, 2001). Sendo assim, novas estratégias de formação estão sendo implementadas, permitindo a construção de um saber coletivo e de um trabalho em equipe. Conclui-se que a residência multiprofissional em saúde mental trata-se de uma nova formação voltada para o cuidado no território, buscando a integração dos residentes com os serviços extra-hospitalares/territoriais. Porém, formar profissionais para trabalharem em equipe numa rede de saúde mental consiste ainda num grande desafio para o campo.