Resumo

A escassez de articulações intersetoriais em serviços de atenção à crise em saúde mental nos instiga, enquanto trabalhadores de um destes serviços, a repensar nossas práticas para que estas não se reduzam a supressão de sintomas. O Hospital Nossa Senhora da Conceição- HNSC- GHC atua em atenção a crise desde 2006 contando com leitos psiquiátricos, e também encontra em seu cotidiano esse desafio. A situação de crise em saúde mental se caracteriza como resultante de vários fatores que envolvem outros sujeitos além daquele em sofrimento psíquico, ou seja, é um processo não só psíquico e orgânico, mas também social. Nesta perspectiva, a atenção à crise deve contemplar o entendimento dos multifatores do sofrimento do sujeito e construir estratégias para reinventar e ressignificar o cotidiano e as relações. A atuação na internação psiquiátrica do HNSC - GHC nos moveu na tentativa de construir laços que possibilitassem experiências terapêuticas - no sentido da produção de vida - inovadoras na dinâmica de um ambiente “fechado”, o qual necessita, pela própria característica do espaço, de interações e circulações na cidade e na vida comunitária. Em função destas questões, desenvolvemos a parceria com a Rádio Comunitária da Associação de Moradores de um dos bairros da Zona Norte de Porto Alegre (em que está situado o HNSC) para a construção de um programa semanal produzido por usuários, profissionais contratados e residentes do Serviço de Saúde Mental. Neste processo, desde a primeira reunião com a referida associação, está inserido um usuário do serviço, morador desta região, o qual mostrou interesse pela atividade de rádio. Esta atividade proporciona aos usuários novas possibilidades de exercer a cidadania, a partir do momento que habitam e se sentem pertencentes à outros espaços que não somente os serviços de saúde, e realizam produções que remetem às possibilidades, à vida e à cultura e não às limitações de uma doença. Espera-se que esta intervenção possibilite ás equipes de saúde outras possibilidades de se pensar o cuidado. Como já nos indica a Política Nacional de Saúde Mental sobre a relevância da intersetorialidade, esta é sine qua non,para a efetividade do cuidado integral, pois visa a produção de vida em todas as áreas onde a vida acontece como a educação, cidadania, lazer, trabalho, entre outras.