9º Congresso Nacional da Rede Unida 2010
Resumo:478-1


Poster (Painel)
478-1Concepções do fazer política em trabalhadores da Saúde: o caso de duas Unidades Saúde da Família.
Autores:Daniel Rangel Curvo (UFPB - Universidade Federal da Paraíba)

Resumo

A inscrição do SUS na Constituição de 1988 foi fruto da organização da Saúde enquanto Setor. Essa organização contou com a participação decisiva de alguns trabalhadores da Saúde que, nos anos 1970/80, buscaram desenvolver novas tecnologias de cuidado em seus campos de trabalho. Nessas experiências tomaram corpo algumas das principais idéias do que se convencionou chamar Reforma Sanitária Brasileira. Tendo em mente o importante papel dos trabalhadores, na atualidade, para a consolidação do SUS, pesquisamos sobre como alguns trabalhadores de Saúde da Família entendem a relação entre SUS e política. Para isso foram realizadas entrevistas semi-dirigidas com 50% dos trabalhadores e Residentes Multiprofissionais de duas Unidades de Saúde da Família. A análise dos dados foi feita com base na proposta de Minayo, a hermenêutico-dialética. Os resultados foram organizados em três campos de questões: influências da campanha eleitoral sobre o processo de trabalho da equipe; participação da comunidade; concepções sobre o fazer política. Nessa apresentação focaremos as concepções sobre o fazer política que permearam os discursos, dividimo-las em dois grupos. Um primeiro entende o fazer política como trabalho de políticos profissionais, eleitos, “que estão lá em cima”. Os discursos permeados por essa concepção trazem consigo uma alta carga de descrença com o processo político e de apatia ou impotência frente ao existente. Um segundo grupo entende o fazer política como “inerente ao ser humano”, presente em suas relações cotidianas. Esse grupo traz, em seu discurso, um posicionamento mais comprometido com a transformação da realidade e consolidação do SUS. Nos encaminhando para as considerações finais, trazemos o fato histórico da democracia representativa como um dos fatores que nos ajudam entender a existência desses dois grupos de concepções. Outro fato histórico importante é a moderna divisão social do trabalho, que colabora na fragmentação da realidade e na alienação do trabalho. Por fim, vale a ressalva de que, ao se perceber o fazer político como algo inerente à vida humana e com isso abrir o instituído à diversidade do instituinte, é essencial que o sujeito político faça a ligação conceitual e prática dos detalhes do cotidiano à totalidade histórica, sob o risco do fazer política ser facilmente reabsorvido e acabar fortalecendo o modo de produção capitalista – incompatível à plena consolidação do SUS e da Reforma Sanitária Brasileira.


Palavras-chave:  política, SUS, subjetividade do trabalhador