Resumo

A luta em defesa da saúde no Brasil gerou uma série de questionamentos dos modelos e práticas de formação dos trabalhadores sustentados pelo tecnicismo, pela fragmentação do conhecimento e pela divisão social do trabalho. Dos questionamentos surgiram proposições que ensejam iniciativas capazes de transformar os processos formativos e as formas de organização do trabalho na saúde. Dentre essas proposições, a educação politécnica foi fortalecida no âmbito da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/FIOCRUZ) e busca romper as práticas que preparam os trabalhadores, através de treinamentos e capacitações, para ocuparem postos de trabalho oferecidos pelo mercado, e que reificam uma formação que reproduz a lógica da descartabilidade do trabalhador. Nesse sentido, a EPSJV investe em estratégias educativas que incentivam a pesquisa, a articulação entre teoria e prática, e a visão crítica dos modos de produção e das bases científicas de organização do trabalho. Partindo da premissa que a avaliação é um importante fator de mudança do modelo educativo, em 2008, foi incorporado o portfólio como instrumento de avaliação dos alunos no contexto da Iniciação à Educação Politécnica em Saúde – espaço que integra todos os alunos independente da habilitação técnica e que discute noções e conceitos fundamentais dos campos da saúde e do trabalho. Com o objetivo de compreender e refletir a incorporação do portfólio no contexto da formação politécnica, este trabalho apresenta a experiência realizada nos últimos anos que indica o potencial dessa tecnologia no processo de ensino-aprendizagem e na transformação do modelo avaliativo tradicional, classificatório e normativo. O portfólio mostra-se coerente com a educação dialógica, possibilita o acompanhamento do desenvolvimento do aluno, fortalece a participação nos momentos formativos, a significação dos conteúdos discutidos e a reflexão crítica das estratégias educativas e da prática docente. Embora tenha sido incorporado como um instrumento de avaliação, o portfólio supera sua função avaliativa, uma vez que expressa um saber-fazer e se constitui como uma tecnologia de formação, mediação e participação de alunos e professores. Se por um lado o portfólio é mais do que um instrumento de avaliação, esta, por sua vez, no contexto da formação politécnica, extrapola o portfólio enquanto instrumento, pois se preocupa com a crítica e com a transformação do trabalho.