Resumo

Este texto foi desenvolvido por residentes do Curso de Especialização Multiprofissional em Saúde da Família nos Moldes da Residência da Escola Nacional de Saúde Pública ENSP/FIOCRUZ. Nossa equipe de residentes é composta por quatro profissionais de áreas distintas: uma enfermeira, uma nutricionista, uma dentista e uma psicóloga. O curso de residência tem como campo de prática algumas equipes de Saúde da Família do Município do Rio de Janeiro. O campo escolhido foi o Programa Saúde da Família do Morro do Alemão, onde tínhamos previsão de ficar por dois anos, porém o período vivido neste local foi reduzido a intensos trinta e cinco dias. Na medida em que vivenciamos um momento intenso de conflito no Morro do Alemão, a partir da intervenção policial no conjunto de favelas do Complexo do Alemão, sentimos a necessidade de refletir e discutir sobre o tema violência a partir de nossas vivências. Portanto, este trabalho é um relato de experiência que foi baseado nos registros que diariamente fazíamos em nossos Diários Reflexivos. Também procuramos fazer um contraponto de nossas experiências com o que estava sendo divulgado diariamente na mídia. Não tomamos o território do Alemão como um lugar à parte da sociedade, ou lugar onde a violência se manifesta. É um território onde nos foi possível identificar de forma mais aguda violências que perpassam toda a sociedade. Violências que estão em sintonia com a forma de organização social que sustentamos e não com a “natureza” do lugar em que moramos. No cotidiano do nosso trabalho, percebemos que conhecer e ser reconhecido na comunidade tinha uma importância muito grande na atuação dos profissionais da Estratégia Saúde da Família. É fundamental, ter domínio e clareza das regras e códigos que indicam as formas de conduta e sociabilidade naquele espaço territorial. (BAIERL, 2004) Quando atentamos para a relação com os moradores, observamos que os profissionais têm de lidar tanto com os medos da população sob seus cuidados quanto com seus próprios sentimentos, mas, muitas vezes se vêem despreparados para trabalhar com essas demandas. Como profissionais de saúde, compreendemos a magnitude do fenômeno da violência, a necessidade de avaliar sua repercussão na vida das pessoas e pensar em estratégias sociais, políticas e econômicas integradas para seu enfrentamento.