9º Congresso Nacional da Rede Unida 2010
Resumo:366-3



366-3Complexidade e Saúde da Família
Autores:Rodrigo Otávio Moretti-pires (GETTS/UFSC - Grupo de Estudos do Trabalho e Trabalhadores de Saúde/UFSC)

Resumo

A proposta de implementação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) no Brasil, traz em sua fundamentação uma perspectiva de que saúde é manifestação complexa da vida humana. Este é o ponto de partida para o presente trabalho: a complexidade implicada na interação entre ser humano e arcabouço/mundo em que se insere. No presente trabalho o termo “complexo” não se refere à adjetivação de determinado fenômeno de aspectos múltiplos, mas sim à “complexidade” enquanto referencial teórico-filosófico e epistemológico, fundamentado em Edgar Morin. Ressalta-se, no entanto: é recorte de um contexto particular, pretendendo articular os pressupostos da ESF e o processo de trabalho dos enfermeiros, médicos e odontólogos. Partindo de informações empíricas no Estado do Amazonas, analisadas a luz da hermeneutica dialética, encontrou-se que, apesar de a Saúde da Família se constituir em um modelo de atenção primária que prima pela visão complexa do usuário, o processo de trabalho ainda desconsidera o objeto complexo do qual deveria dar conta, ao manter o talhe das fragmentações e da disciplinaridade na atenção. A dicotomia entre o identificar da importância e o silêncio com relação à operacionalização do trabalho em ESF pode se constituir como emblema da existência de problemas para a formação com ênfase no SUS ou na Educação permanente, com os sujeitos silenciando-se sobre como atuariam adequadamente aos princípios norteadores deste. Na medida em que aprenderam apenas os aspectos técnicos de sua profissão e não aprenderam como articular-se com outras profissões que dividirão espaço nos Serviços, a enfocar a vida vivida dos pacientes e muito menos a intersetorialidade em Saúde, a formação universitária por si só não lhes possibilitará atuar desta forma. E ai se põe a mesa: formação reducionista, seja no âmbito da graduação como nas "praticas de educação permanente", para um trabalho assumidamente complexo. Existem deficiências evidenciadas e que não se referem apenas ao debate histórico das pedagogias do “aprender fazendo”. Em sentindo amplo, trata-se de uma questão de cunho epistemológico e político, tanto na orientação da própria da universidade pública brasileira, como do planejamento, organização e investimento em Educação Permanente na ESF. Paralela a necessidade de formação por "objetos complexos" com enfoque diferente da necessidade do serviço público e da coletividade, ainda mantém-se talhe fragmentador, medicalizante e biologicista.


Palavras-chave:  Teoria da Complexidade, Saúde da Família, inadequação