Resumo

O processo de construção do Sistema Único de Saúde - SUS tem procurado garantir as ações da saúde como um direito de todos os cidadãos. A larga extensão territorial e populacional tem induzido cada vez mais a presença de equipes auxiliares em saúde. Na odontologia, técnicos em saúde bucal – TSB dão suporte clínico ao cirugião-dentista - CD, que além de favorecer a qualificação da atenção, viabiliza a ampliação do acesso. Sua ação profissional foi regulamentada em 2008 através da Lei 11889. Anterior a essa lei, vivenciava-se uma diversidade de práticas. Buscando traçar essas diretrizes optou-se por realizar uma pesquisa-ação em 12 unidades básicas de saúde em uma capital da região sudeste, com 350 usuários. Este estudo, de perspectiva quali-quantitativa, analisou documentos que norteavam a formação do TSB, relatórios, entrevistas, grupos focais, observação participante e um formulário “Registro e Monitoramento dos Procedimentos Realizados”, construído coletivamente pelos pesquisadores e os integrantes da ESB. A análise dos dados se constituiu pela técnica de Análise de Conteúdo e pelo EPIINFO, versão 2002. As categorias apreendidas foram: 1- a modalidade de pesquisa-ação e 2- avanços e desafios. A importância dessa modalidade de pesquisa foi ressaltada pela sua proximidade com a realidade cotidiana do processo de trabalho em saúde bucal, tornando esse espaço laboral um local de aprendizagem e pesquisa. Além de, viabilizar a transformação do contexto estudado, baseada na fundamentação adotada para a prática do TSB e na padronização de algumas ações. Os desafios presentes no exercício profissional do TSB se centralizaram na falta de autonomia, condições inadequadas de trabalho, sobrecarga de funções, equipe fragilizada, modelo de formação e prática clínica fragmentados. Os avanços associados à co-responsabilização das ações por toda a equipe, assegurando uma simetria de poder, sustentada pelas oportunidades de proposição, discussão e acordos consensuais. Os dados quantitativos do formulário, apesar de demonstrar um alto nível de concordância entre CD e o TSB, distanciando dos diagnósticos "tipo cego", comum nos estudos acadêmicos, reproduziram os achados das técnicas qualitativas como os grupos focais. O que pode estar relacionado à capacidade da equipe de dialogar. Em síntese, evidenciou-se um empoderamento do TSB, que ao participar ativamente do estabelecimento das suas diretrizes de trabalho, se fortaleceu como autor e condutor de sua ação.