9º Congresso Nacional da Rede Unida 2010
Resumo:286-1



286-1A produção de saúde (territórios existenciais) nos espaços ocupados: Habitando o inabitável.
Autores:Geise Devit da Silva (GHC - SSC - GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO - SERVIÇO DE SAÚDE COMUNITÁRIA)

Resumo

Os espaços e a maneira com que os ocupamos, fazem parte do processo de subjetivação; subjetivados e subjetivantes. Desse modo, como se dá a experiência subjetiva e de saúde dos sujeitos que habitam/ocupam lugares que são considerados incompatíveis com o humano (insalubres e inóspitos)? Problemática com a qual deparei-me através de minha inserção na equipe da Unidade de Atenção Primária em Saúde Santíssima Trindade, presente na Vila Dique – Porto Alegre, RS – no estágio curricular de psicologia (jan 2008 a jun 2009). Encontrando-me neste inabitável dique encontro-me também com a potência de vida produzindo modos de ser e de habitar (produzindo saúde); D´onde nasce uma cartografia, disposta a transitar por estes territórios existenciais produzidos, dar-lhes visibilidade; acabando por interrogar os modos de vida instaurados nas cidades e seus processos de saúde-doença. Torna-se iminente o caráter transitório que o território da vila dique assume: aguardam sua remoção prometida pelo Estado há muitos anos. Uma das forças que enlaçam essas pessoas ao espaço inóspito é a sobrevivência: a busca por empregos, os catadores de lixo reciclável. Ou seja, as práticas econômicas e de relações de poder (GIMENEZ, 2005) são importantes na constituição desta comunidade, embora não seja a única. O substantivo dique está relacionado à represa, contenção de invasão e barragem para água. Essa é a ambivalência-dique: contém, barra, faz parar e ao mesmo tempo escoa, passa, flui. É também a ambivalência da Vila Dique: habitar o transitório. Falamos, então, da possibilidade de fazer do transito morada, lugar. O raciocínio de citadinos lança análises a respeito dos movimentos de transição pela via da miséria, do sujo e da não urbanização. Mas esse mesmo raciocínio não dá compreensão à construção de casas e domicílios, às forças que compõe comunidades ligando sujeitos e espaços. Que intensidades, contra hegemônicas e absurdas ou revolucionárias, produzem os movimentos de permanência? Toda comunidade marginalizada denuncia a falácia, ou a ilusão de felicidade e de gozo pleno, que a modernidade e o capital trouxeram e da qual as grandes cidades são embaixadoras. O território diqueiro denuncia não só quando expõe a que custos a cidade se configura, mas quando mostra a possibilidade de vida na não-cidade. Eis porque o paradoxo inabitável nos afecta: são cidadãos os habitantes da/na não-cidade? Ou forjam a cidadania com a forja da própria existência?


Palavras-chave:  constituição das cidades, processo de subjetivação, produção de cidadania